quinta-feira, 31 de maio de 2007

Vênus


Não falo do amor romântico, Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. Relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, E pensam que o amor é alguma coisa Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, Antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta. A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile. Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor nos domine? Minha resposta? o amor é o desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, O amor será sempre o desconhecido, A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, Quer ser transformado a cada instante. A vida do amor depende dessa interferência. A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, Decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu Como se fossem novas estrelas recém-nascidas. O amor brilha. como uma aurora colorida e misteriosa, Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, O amor grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio Porque somos o alimento preferido do amor, Se estivermos também a devorá-lo. O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, Me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Morrer de amor é a substância de que a vida é feita .Ou melhor, só se vive no amor. E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

->Paulinho Moska - Vênus<-

domingo, 27 de maio de 2007

Atuar sem viver


A necessidade fez um homem,

de tão homem o palhaço fraquejou,

entregou o seu sorriso,

e diante de uma moeda se humilhou

aquele que era do povo,

se tornou mais um sobre o picadeiro,

ao pé da luz de um candieiro,

um palhaço chorou.

- quem já viu um homem chorar moço?

retrucou o pobre moço,

e sem animo e sem gosto se pegou a pensar..

"..Jamais pensei em ser ator,

e a vida mesmo assim,

me ensinou a atuar,

interpretei o tempo todo,

um papel que eu nunca quis interpretar,

ô seu minino,

onde já se viu um palhaço chorar?"

a luz do candieiro se apagou,

e o menino que era sonhador,

fraquejou e pensou em desistir..

- palhaço não é vida não sinhô

retrucou o velho palhaço ou o velho ator

com olhos mareados corpo cansado ele lembrou

que até um palhaço chorou,

quem seria tão homem de não arriscar?

a vida passa,

sem nem piscar,

é, será que isso foi um olhar?
"Pão e circo, a história continua.."

domingo, 20 de maio de 2007

Tempos Contra-Tempos


Nos acordes da música sem fim da sinfonia que a vida toca,

o maestro rege as partes da partitura tocando o momento.

Nas vozes das multidões espalhadas,

bocas amordaçadas,

sensibilidades caladas que gritam por um amor verdadeiro.

Turbilhões de sentimentos acuados,magoados,

numa procura infindável da felicidade

e que por ironia escrita na pauta do compositor

só poderás encontrar na sublime pausa.

Mesmo que renegues a sábia melodia,

mesmo que tropeces algum compasso,

chegará o rei regente um dia,

e caminhará junto a ti cada passo.

E assim sendo o que está escrito,

cada nota será cumprida a seu tempo,

e o final dos tempos chegarão benditos e malditos

e nessa união entre o bem e mal,

tempo e contra-tempo

chegará o momento do banimento do medo

e então todos amarão e serão felizes